Mais um jogo do Brasil e corro para encontrar o meu bonito. Trânsito nem tão insuportável e chego na Savassi. Depois de experiência ensurdecedora na última partida, entramos em consenso e fomos assistir em local tranquilo. Ou o máximo que poderia ser. Chegamos na Status, livraria da Savassi e achamos o paraíso: Stella - para quem não sabe, a cerveja mais deliciosa do planeta, chamada Stella Artois, mas para mim, que já sou íntima, é só Stella mesmo - geladíssima, dois telões e gente educada. Tudo de bom!
Mas uma cena me chamou a atenção: uma mulher, logo a minha frente, torcia sozinha. Pouco acima do peso, vestido de verão, cabelo preso, totalmente fora do contexto do frio e da copa. Sem blusa amarela ou verde ou da seleção mesmo, tinha gestos contidos.Esperava ninguém. Ou cansou de esperar. Tomava o seu martini, olhava para o telão, tentou puxar papo com o casal atrás:
- Estou atrapalhando?
- Não, de jeito nenhum.
Claro que ela não estava na frente de ninguém, visto as 52 polegadas do telão. Mas parecia que ela queria conversar. Ser convidada para sentar com alguém, dividir a ansiedade de um lance, a vontade do gol. Xingar o juiz, duvidar da escalação, reinvidicar o gol impedido! Ela não podia nada. Falar com quem? Gritar como?
Só se fosse com o senhor com cara de estrangeiro que também bebericava um chopp sozinho. Fiquei imaginando eles se olhando, erguendo os copos e se convidando para um brinde juntos. Dividir a mesa, as emoções e talvez trocar telefones, carícias...Apesar de não saber se eram casados, namorados ou realmente solitários. Poderia ter havido uma briga e ela, ensandecida, resolveu ver o jogo sozinha, só de pirraça, enquanto o marido teimava em assistir com os amigos. E ele, provavelmente vindo de outro pais, estava lá só para comer e nem torcia para o Brasil mesmo...
Ficamos, eu e meu bonito, imaginando milhões de explicações para esses dois seres humanos, tão próximos fisicamente, com histórias diversas de vida e sozinhos.Quase nos levantamos e fomos lá perguntar:
- Ei , tudo bem? Por que você tá aqui sozinha?
As respostas poderiam ser várias. Do: Não te interessa, não te conheço! Ao: Estou tão sozinha, me deixa sentar com você...E talvez escutássemos sobre a briga com o marido, o regime que não deu certo, a troca por outra mulher, a tentativa frustrada de ter filhos, o abandono dos pais, a vida difícil de órfã...E ele, o quase estrangeiro, podia ser um exilado político da União Soviética e não queria ser incomodado mesmo por ninguém, visto ter uma identidade secreta que deveria ser preservada a todo custo e quem a descobrisse provavelmente seria morto pela máfia russa...Melhor não me meter!
Mas talvez eles gostem de ser assim. Talvez ela nunca queira ter se casado por não ter que dar satisfação da sua vida para ninguém, não quis ter filhos para não perder o corpo - que ela já não tinha mesmo - goste mesmo é de comer, visto que a sua coca cola não era diet e a sobremesa foi um farto sorvete. É, talvez o russo mafioso esteja a passeio ou more mesmo na Savassi e seja tímido e torça apenas no seu íntimo para o país que o acolheu depois do atentado na Praça Vermelha...Talvez o poeta não tenha razão e não seja tão impossível assim ser feliz sozinho...Eu ainda prefiro a companhia do meu bonito e a bagunça dos meus filhos!E viva o Brasil!
Adorei o texto, ficou excelente!
ResponderExcluirÀs vezes também me pego tentando imaginar a vida dos outros...
Ah, o link lá no gmail tá errado, tá blospo.com ao invés de blogspot.com
Beijos