segunda-feira, 11 de julho de 2011

FELICIDADE

 Há muito tempo venho percebendo que o índice de descontentatmento das pessoas vem aumentado proporcionalmente as melhorias advindas do mundo moderno. Parece que quanto mais temos, mais queremos. E se não temos, ficamos frustrados.

 Um exemplo bem simples, bobo até, foi vivido por mim lá em Araçuaí. Trabalho em projetos no Norte de Minas e encaro uma realidade muito diferente da nossa. Enquanto tenho aqui uma internet rápida e eficaz, lá não pode ventar que a conexão cai. Enquanto temos telefones públicos em qualquer esquina, lá temos que fazer dura caminhada até encontrar algum. E por aí vai...

 Mas o que mais me impressionou foi a questão da oportunidade. Muito mais importante do que estudar, lá as meninas tem que colocar comida na mesa, invariavelmente dos seus filhos menores. Escutei aterrorizada o relato de um professor que dizia que a mãe de uma dessas meninas a tirou à força da sala de aula dizendo que aquilo lá não dava futuro e que a obrigação dela era trabalhar para o filho não morrer de fome, contribuindo assim para um ciclo de miséria e ignorância. Mas como podemos julgar pessoas que literalmente vendem o almoço para comprar a janta?

 E fiquei imaginando o tudo que temos -  e que sim, merecemos pois o ser humano merece muito - mas que nem precisamos tanto assim. A futilidade comprada, a felicidade vazia, a aparência aclamada. Tudo que mostramos ao outro apenas para ostentar e nem damos tanto valor assim. E nem sabemos ao certo o que tem valor para nós...

 Há alguns anos atrás, em uma época da minha vida onde nada estava bom e me sentia absolutamente humilhada, acabava reclamando de quase tudo. Estava triste e sem nenhum tipo de motivação quando li, em algum lugar, um texto que foi, naquele momento, como um tapa na cara. Ele dizia mais ou menos assim: "Ao invés de reclamar da louça que você tem para lavar, agradeça a comida que você teve para sujar toda aquela louça. Ao invés de reclamar das várias roupas para lavar, agradeça por ter roupas para te aquecer no frio do inverno..."E por aí vai.

 Tento passar um pouco desses conceitos para os meus filhos, que vivem em um mundo imediatista e altamente frustrante. A internet massacra com os lançamentos, a rapidez da comunicação e a virtualidade das emoções. E eles querem sempre mais. Celular virou necessidade básica e eles se conectam a um mundo que precisa de velocidade e recursos cada vez mais elaborados. E não se contentam com pouco....

 E acabam vivendo em uma realidade vazia. Outro dia meu filho mais velho disse que invejava um coleguinha por que ele tinha um playstation melhor do que o dele e que isso sim era felicidade. Me assustei com esse conceito e perguntei para ele se felicidade era uma coisa material. Ele disse que sim, que seria mais feliz se tivesse mais coisas materiais. Engatei uma discussão calorosa, na tentativa de fazê-lo entender que não somos o que temos e que dinheiro não traz felicidade não!

 Me lembrei então da menina de Araçuai, que não tem playstation, nem mesmo um computador para passar raiva com a  internet lenta, passando noites em claro cuidando de seu filho, que talvez nem tenha um pai presente e que almeja simplesmente frequentar a escola e sonhar com um futuro melhor, com medo de ousar demais e se contentando com o pouco que Deus lhe deu. Mas talvez, ainda assim, ela seja mais feliz que o meu filho...

 E me senti cansada...Cansada do desperdício, da falta de valores, da fuga da realidade.Cansada de tanto recurso, de tanta burrice, de tanto nada. Tanta gente vazia, ostentando o que não tem e tanta gente boa, precisando de tão pouco ou quase nada para dar mais um sorriso. Será que é tão difícil assim ser feliz?

Um comentário:

  1. Essa crônica me lembrou o comentário de uma personagem do filme Matrix: "Ignorância é Felicidade". Nada mais verdadeiro e coerente com a sua crônica. Parabéns mais uma vez! O texto está esplendido.

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