terça-feira, 5 de janeiro de 2010

PÃE

  Numa dessas tardes raras de ócio absoluto resolvi colocar a leitura em dia. Peguei um livro de Jonas Bloch, que adquiri em feliz sessão de autógrafos na livraria da travessa. Me deparei com a história de um Pãe.Para quem não sabe, Pãe é o nome dado a bravos guerreiros que são pai e mãe ao mesmo tempo. E percebi que também faço parte dessa classe. Meu filho mais velho, Victor, só conheceu o pai aos 7 anos de idade, pelas várias artimanhas da vida. Meu pequeno, Enzo, já com 6 anos mora há 4 comigo, visitando o pai apenas nas férias. Então, é oficial: sou Pãe. Para quem se acostumou com meus textos suaves e coloridos sobre o dia das mães, prepare-se: vocês vão descobrir o lado oculto de minha vida...

  Sim, porque ser Pãe é quase surreal. Dizem que mãe é ternura e pai é autoridade. E Pãe? Surta de 15 em 15 dias... Afinal temos que contrabalançar sentimentos quase opostos durante todo o tempo: amor e respeito, carinho e disciplina, dureza e flexibilidade...E isso durante as 24 horas do dia, sem folgas...O mais interressante é que no caso de Jonas Bloch ele teve que criar duas meninas e eu tenho a incubência de dois homenzinhos. Não imagino o que poderia ser mais dificil: um pai lidando com tpm ou uma mãe lidando com mudanças de voz, o primeiro desodorante...Mas o resto, deve ser bem parecido: escovar os dentes, conferir as notas, ensinar obrigado, com licença e desculpa, implorar para ele se comportar na casa do amiguinho:

-Pelo amor de Deus filhinho, finge que você é um lorde dinamarquês!
  Lógico que ele nunca ouviu falar em nenhum lorde, mas entende que tudo aquilo que aprendeu - e nem sempre usou - deve ser colocado em prática pelo menos nessa hora.

  Mas tem as suas compensações. Jogamos futebol sem regras ( obviamente por não conhecê-las ),video game sem a menor preocupação, damos piruetas, cambalhotas, inventamos números de circo e malabarismos com a vida. Me asssusto com o 38 do tênis do Victor e com a notória safadeza de Enzo. Sei jogar " bafo", aprendi o nome dos herois das figurinhas, desenhos, e me preparo para comprar presentes de dia dos namorados...ai,ai. Mas me orgulho ao vê-los crescendo, criando corpo e espirito de futuros pais. De quebra, ganho demonstrações de carinho que - acho - só filhos criados com Pães devem ter. Poemas inteiros feitos por Victor agradecendo pela disciplina e amor que a Pãe dá... Ser tirada para dançar por um doce Enzo no meio do pátio da escola no dia da festa junina...É... nesse misto de dureza e manteiga derretida, meus filhos me abraçam e me beijam sem nenhuma vergonha. Dizer EU TE AMO é a coisa mais natural do mundo e lágrimas e risos são compreendidos e liberados da mesma forma.Depois da dureza vem a ternura e ser Pãe é ter a felicidade - e a loucura - de dois mundos. Até que não foi tão difícil assim...

2 comentários:

  1. Perfeito! Belíssimo esse texto! Me identifico com cada palavra! Eu, que também sou um pouco - ou muito - Pãe, confirmo e reafirmo tudo que você disse! É isso mesmo... E até que, de fato, não é tão difícil assim...! ;-)

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  2. Carol, chorei!!! por tb sou um Pãe. Beijos

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