FOI... POR MEDO... DE AVIÃO...

  Já viajei de avião algumas vezes, mas sempre me sinto uma jacu. Literalmente. Jacu, para quem não sabe, é um substantivo mineiro que significa pessoa não civilizada. Da roça mesmo. E é assim que fico quando vou para um aeroporto. Começa do princípio mais básico: com que roupa eu vou? Sim, pois para viajar eu entendo que devemos ir da maneira mais confortável possível. Mas o que se vê é uma profusão de saltos altos e maquiagem, bijoux, que desconfio que todo mundo foi convidado para uma festa, menos eu! Mesmo que se vá direto para uma reunião, congresso ou seja lá o que for, dá tempo de dar uma paradinha e se arrumar. Eu mesma faço assim: entro no banheiro e praticamente me transformo em outra mulher, com 10 cm a mais e cara de quem acabou de fazer um botox! Tecnologia, amiga...

  Me aproximo do guichê e a moça me pergunta se tenho bagagem para despachar.Apesar de mulher e vaidosa, consigo passar um dia fora apenas com a minha bolsa e a  frasqueira( para todos os cremes ) e  me arrisco no chek in rápido. Me senti menos jacu. Aprendi a fazer tudo certinho e achei o máximo! Não peguei fila e fui muito bem acessorada. Só não gostei do interrogatório do rapaz da Gol:
- Tem alguma substancia inflamável?
Álcool em gel não é, DMAE eu já não sei...
- Problemas cardíacos?
Medo de avião serve?
- Gestante?
PQP, não como nada até amanhã....

 Dou um suspiro e vou tomar um café. A mulher do caixa claramente é, ou está, mau amada.  Pergunto o preço do café com pão de queijo:
- 6, 90
Repito no susto: um café e um pão de queijo?
 - 6, 90  - enfática.
Tenho até medo de perguntar mas tomo coragem:
E com capuccino?
 - 8, 90
Acho que preciso ir nas festas que as mulheres chiques vão. A sorte é que fui servida com um sorriso pelo garçom e até esqueci do preço. Aprecio ele com calma, para valer cada centavo...Como boa mineira, sempre chego antes nos meus compromissos e tenho tempo de sobra para pensar nos próximos escritos...

 Termino o meu lanche e vou para a sala de embarque.Me deslumbro, sempre...  acho tudo um luxo. Banco a besta e vou para uma livraria, onde todos os executivos se juntam. Acabei comprando um livro do meu lindo Luiz Fernando Veríssimo para me distrair e alguns postais para o meu filho. Dou uma folheada nos lançamentos e me espanto com os títulos:

PORQUE OS HOMENS ADORAM MULHERES PODEROSAS
PORQUE OS HOMENS SE CASAM COM AS MANIPULADORAS
POR QUE OS HOMENS...não seria mais prático perguntar: porque alguns homens não gostam de mulheres? Ou : do que eles realmente gostam? Muitas perguntas...E aí, temos que ser o quê? Mas isso é para uma outra crônica, vamos ao avião.

  Quando chamam para o portão de embarque para Brasília, vejo Aluísio Mercadante sendo perseguido por um eleitor que teima em lhe dar tapinhas nas costas...muito engraçado! O homem insistia em conversar com o senador e fingia ter uma intimidade que notoriamente não existia. E vi também o Montaro do vôlei e mais um monte de mulheres lindas indo para a festa que nunca vou... me divirto observando as pessoas.

  Portão 20 liberado e lá vou eu!Entro, acho o meu lugar – na janelinha! – e já começam as manotas. Não sei como abaixar o assento e o rapaz ao meu lado, muito solícito, me mostra um botão que só poderia ser para aquilo mesmo. Risos sem graça. Vou me acomodando, ajeitando a minha tralha, pois como não despachei nada, bolsa e frasqueira de mulher sempre ocupam espaço. Começo a ficar tensa na hora dos avisos: cinto de segurança, desligar o celular, poltrona flutuante...Como vou flutuar numa poltrona que mal cabe a minha bunda?Quando vou ter forças para arrancar aquilo tudo e levar para fora do avião? E celular?Fico policiando todo mundo, atenta ao menor barulhinho. Quase peço para o menino do lado parar de mandar mensagens para namorada. Gente, será que ele não ouviu o aviso? Fico imaginando o que pode acontecer se ele persistir...pego o celular dele e arremesso? Espero o avião ter uma pane e aponto:
 - A culpa é dele!

  O pior é que todas as notícias de acidentes de avião teimam em vir a nossa mente exatamente nessa hora. Tudo aquilo que vimos e ouvimos parece ser ligado automaticamente na hora mais imprópria e ficam se revirando no nosso inconsciente sem parar. Tento me concentrar no livro, mas começo a reparar nas mãos suadas do menino das mensagens. Ele parece estar mais nervoso do que eu ...e pega no celular de novo, juro que vou apelar! Pior é o outro, que está com dois celulares e teima em falar com Deus lá sabe quem! Desiste, filho,senão vamos cair! E a aeromoça ainda fala que " naquele momento o uso de aparelhos eletrônicos estão liberados!".Se eu não tinha problema cardíaco, passei a ter. Ai, ai...

  Vem o lanche e pelo menos minha barriga se distrai. Lanche não seria exatamente o título exato, digamos  um engana fome. E que fome! Mas me lembro do menino da Gol : murcho a barriga e fecho a boca. Fujo do refrigerante e da balinha, e , sinceramente, o biscoitinho com patê de presunto não dá nem para fingir que engorda! Melhor me distrair com a vista, afinal estou na janelinha! Nuvens sem fim, céu de brigadeiro e a mente viaja...Dá até vontade de escrever...

 O comandante interrompe o meu sonho.Vamos nos preparar para pousar.Eu não, ele que se prepare! A aeromoça pede para voltar a posição vertical.Ainda não sei em que momento fiquei na horizontal...Recorro a minha Nossa Senhora da Boa Viagem para que nos dê um bom pouso.Queria ter um terço nessa hora, mas acho que o menino das mensagens está rezando por todos nós.Balança pra cá, balança pra lá e imagino que deveria ter um "puta merda"no avião, aquele acessório do carro, sabe? Seria o mais disputado. Ele e alguns terços.Tudo perfeito e estamos no chão. Lembro de alguém que disse enfim entender o gesto do Papa ao beijar o solo dos locais que visita. Não é amor pelo tal país , é o alívio da chegada! E ainda tem a volta...

Boas viagens!