Tenho aproveitado as minhas férias para fazer caminhadas diurnas pela Praça da Liberdade.Sim, pois normalmente só as faço de noite. Adoro a Praça, com a sua beleza estudada, seu entorno de cultura e as pessoas que por lá circulam. Tudo tem um ar cult e me deixo levar em voltas e mais voltas. No meio do meu exercício, me deparo com um grupo que parecia estar orando. Passo imaginando que a praça é pública e cada um faz o que quer.
Outra volta e eles continuam lá. Tenho agora a certeza de que, sim, estão orando. São em torno de 30 e parecem bem concentrados. Continuo a minha caminhada, imaginando como é bom morarmos em um país democrático e que em plena praça as pessoas podem manisfestar a sua religião sem nenhum tipo de repressão. Respiro feliz e presto atenção na letra da música que vem pelo meu celular até os meus ouvidos. Seu Jorge, invariavelmente.
Na terceira volta que dou, percebo o grupo se dissipando, como estivessem todos já cumpridos uma missão. Vou me aproximando e de repente uma senhora se aproxima:
- Você quer ganhar uma bíblia?
- Não.
Acho que nunca respondi a algo tão de imediato assim. Neguei uma bíblia! Me senti o próprio anti cristo... Se minha avó, ministra da eucaristia, me ouvisse negar uma bíblia, eu seria excomungada até a minha última geração. Imaginei todos os meus parentes padres, monsenhores e até - pasmem - Pio X - se revirando no túmulo.Até ele era meio parente meu.Talvez de décimo grau, mas a minha avó insistia nessa idéia.
E fiquei imaginado porque iria querer uma bíblia.Tenho algumas, ganhas durante a minha saga na catequese. Na primeira comunhão e na crisma era isso que se ganhava.Acho que ganhei uma também durante um encontro de jovens e herdei mais uma da minha avó. Dei uma para o meu filho quando ele fez a sua primeira comunhão, para não quebrar a tradição. E me lembrei das sábias palavras de um grande padre que eu sempre temi por ser sempre a mais levada na hora da missa: Padre Helio dizia que bíblia não era enfeite e que de nada adiantava ter uma e não ler.
Lógico que já li a bíblia. E leio sempre que acho necessário. E lógico que aquele povo que a estava distribuindo não queria apenas isso de mim. Tanto que outra pessoa, mais adiante, me abordou também, de forma mais incisiva. Algumas pessoas até paravam e conversavam com os que ofereciam. Mas desconfio de tudo que é de graça.
E tenho também pânico de pessoas que tentam impor a sua verdade sobre a minha. Nada contra nenhum grupo religioso, sou católica e nunca disse que a minha religião é melhor do que qualquer outra. Mas, ao mesmo tempo em que eles podem usar a praça para as suas reuniões, eu também tenho o direito de fazer a minha caminhada sem ter que pensar sobre isso, sem ter que negar uma bíblia. Sem ser abordada como em um assalto duas vezes.
Disse que sou católica, mas a cada dia que passa tenho em mim uma idéia de religião mais simplista, talvez baseada no primeiro dos mandamentos: Amai ao teu próximo como a ti mesmo! Resolveria muita coisa. Ninguém mais ia matar, roubar, desrespeitar o outro em sã consciência. Tento imaginar que a calma da Praça e a beleza desse dia são a minha religião, tudo o que preciso para viver está no respeito e na maravilha de estar viva. E fico imaginando onde estarão as minhas bíblias. Elas me norteiam mesmo juntando poeira em algum armário, pois hoje vivo na prática o que para muitos são só palavras em um livro bonito. E você, quer ganhar uma bíblia?
Outra volta e eles continuam lá. Tenho agora a certeza de que, sim, estão orando. São em torno de 30 e parecem bem concentrados. Continuo a minha caminhada, imaginando como é bom morarmos em um país democrático e que em plena praça as pessoas podem manisfestar a sua religião sem nenhum tipo de repressão. Respiro feliz e presto atenção na letra da música que vem pelo meu celular até os meus ouvidos. Seu Jorge, invariavelmente.
Na terceira volta que dou, percebo o grupo se dissipando, como estivessem todos já cumpridos uma missão. Vou me aproximando e de repente uma senhora se aproxima:
- Você quer ganhar uma bíblia?
- Não.
Acho que nunca respondi a algo tão de imediato assim. Neguei uma bíblia! Me senti o próprio anti cristo... Se minha avó, ministra da eucaristia, me ouvisse negar uma bíblia, eu seria excomungada até a minha última geração. Imaginei todos os meus parentes padres, monsenhores e até - pasmem - Pio X - se revirando no túmulo.Até ele era meio parente meu.Talvez de décimo grau, mas a minha avó insistia nessa idéia.
E fiquei imaginado porque iria querer uma bíblia.Tenho algumas, ganhas durante a minha saga na catequese. Na primeira comunhão e na crisma era isso que se ganhava.Acho que ganhei uma também durante um encontro de jovens e herdei mais uma da minha avó. Dei uma para o meu filho quando ele fez a sua primeira comunhão, para não quebrar a tradição. E me lembrei das sábias palavras de um grande padre que eu sempre temi por ser sempre a mais levada na hora da missa: Padre Helio dizia que bíblia não era enfeite e que de nada adiantava ter uma e não ler.
Lógico que já li a bíblia. E leio sempre que acho necessário. E lógico que aquele povo que a estava distribuindo não queria apenas isso de mim. Tanto que outra pessoa, mais adiante, me abordou também, de forma mais incisiva. Algumas pessoas até paravam e conversavam com os que ofereciam. Mas desconfio de tudo que é de graça.
E tenho também pânico de pessoas que tentam impor a sua verdade sobre a minha. Nada contra nenhum grupo religioso, sou católica e nunca disse que a minha religião é melhor do que qualquer outra. Mas, ao mesmo tempo em que eles podem usar a praça para as suas reuniões, eu também tenho o direito de fazer a minha caminhada sem ter que pensar sobre isso, sem ter que negar uma bíblia. Sem ser abordada como em um assalto duas vezes.
Disse que sou católica, mas a cada dia que passa tenho em mim uma idéia de religião mais simplista, talvez baseada no primeiro dos mandamentos: Amai ao teu próximo como a ti mesmo! Resolveria muita coisa. Ninguém mais ia matar, roubar, desrespeitar o outro em sã consciência. Tento imaginar que a calma da Praça e a beleza desse dia são a minha religião, tudo o que preciso para viver está no respeito e na maravilha de estar viva. E fico imaginando onde estarão as minhas bíblias. Elas me norteiam mesmo juntando poeira em algum armário, pois hoje vivo na prática o que para muitos são só palavras em um livro bonito. E você, quer ganhar uma bíblia?