quinta-feira, 9 de setembro de 2010

AS LOUCURAS DE CADA UM

 Tenho reparado que a cada dia cresce o número de pessoas que falam sozinhas pelas ruas. E a idade vem diminuindo também. Minha priminha fala sozinha. Eu falo sozinha. Sempre. E muito.Às vezes até finjo estar falando ao celular para não parecer tão louca. O problema é quando o celular toca na minha orelha e me desmascara no meio da multidão...Meu filho mais novo ás vezes reclama:
 - Para de falar com você, mãe!
  Mas não acho que falo sozinha. Falo com uma outra eu, que invariavelmente é muito mais centrada que a minha própria pessoa. Não sou bipolar, antes que me rotulem. Mas acho que esse exercício de falar em voz alta para o nada é um auto exame de consciência. Sabe quando em desenhos animados, principalmente do pato Donald e do Pateta aparecem o anjinho e o diabinho, um em cada ombro, falando o que devemos ou não fazer? Pois é. Meu diálogo comigo mesma funciona mais ou menos assim.Sou sempre a diabinha.
  E quem me escuta, ou seja, eu mesma, mas de outra personalidade - não diria uma anjinha, mas uma eu mais descolada, obviamente - é bem interessada nos meus problemas. Me dá conselhos ótimos e até alguns puxões de orelha. Penso que pode ser uma experiência extra corpórea, em que eu mesma vejo as coisas erradas que faço - poucas, lógico - e analiso por outro ângulo. O meu, se não tivesse feito aquilo errado.
  Escrever  é outra forma de conversar com meu outro eu. Me coloco desnuda nessas páginas  - sem devaneios, hein?  - e me enxergo de outra forma. É como um espelho e como um, nem sempre enxergamos aquilo que queremos. Me surpreendo com tanto assunto que tenho. Como coisas bobas podem ter tanto significado. Como choro quando escrevo dos meus filhos e do prazer em desvendar um pouco a alma humana, seja em bares, erros de GPS ou na beleza do dia a dia. Falar em voz alta ou escrever em silêncio são algumas de nossas loucuras. Somos vários e às vezes precisamos do outro para nos descobrir. Nem que o outro seja nós mesmos...